Coronavírus: Para o turismo do Nordeste, 2020 já acabou

 Coronavírus: Para o turismo do Nordeste, 2020 já acabou

Nas praias mais movimentadas de Porto de Galinhas, em Pernambuco, a faixa de areia permanece intacta, e quase não há pegadas de pessoas no chão. No badalado Rio Vermelho, onde a noite ferve em Salvador, restaram apenas as estátuas dos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai devidamente trajados de máscaras cirúrgicas.

Após um verão marcado pelo derramamento de óleo nas praias, que afugentou visitantes por quatro meses, a pandemia do novo coronavírus deve consolidar um ano perdido para o turismo no Nordeste.

O turismo representa cerca de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) da região. Movimenta de resorts a pequenas hospedarias, de restaurantes a bugueiros, jangadeiros, baianas de acarajé e vendedores de fitinhas do Senhor do Bonfim.

Na Bahia, 90% dos hotéis estão temporariamente com portas fechadas, segundo a seção local da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis). Dos que mantiveram as portas abertas, a ocupação média é de 10% dos leitos.

“A receita dos hotéis neste período tem sido praticamente zero. É um impacto enorme”, diz o presidente da ABIH Bahia, Luciano Lopes. A maior parte dos hotéis deu férias coletivas aos funcionários. Mas alguns já começam a demitir e até fechar definitivamente.

O avanço da pandemia e o consequente sumiço dos turistas também teve forte impacto no setor informal, afetando jangadeiros, bugueiros, ambulantes e guias.

Em Maragogi (AL), um dos destinos mais procurados do litoral nordestino, Juan José Moreno, 39, locatário de uma pequena lancha e de um catamarã, ganha a vida levando turistas para as piscinas naturais paradisíacas no meio do mar.

“Está tudo parado. Estou pensando em entregar as embarcações ao proprietário”, disse. Juan se cadastrou para receber o auxílio emergencial do governo federal, mas ainda não conseguiu ter acesso ao dinheiro. “Sobrevivo disso. Tenho três filhas que dependem de mim”, conta.

“O ano já está perdido para quem trabalha com turismo. Muita gente foi forçada a tirar férias antecipadas, outras pessoas foram demitidas e estão sem dinheiro para viajar. Infelizmente, 2020 acabou”, diz.

Em Fernando de Noronha, o governo de Pernambuco fechou o aeroporto e decretou quarentena até o fim de abril. A presidente do Conselho de Turismo da ilha e secretária-executiva da Associação dos Pousadeiros, Auxiliadora Costa, cobra teste de toda a população para as coisas voltarem ao normal rapidamente.

“Temos uma população pequena, e é possível testar todo o mundo”, diz Auxiliadora. Especialistas, contudo, afirmam que a testagem em massa, por si só, não é suficiente para garantir segurança para o retorno à normalidade.

No dia 24 de abril, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), liberou a volta de funcionamento de hotéis e pousadas. A retomada das atividades, contudo, ainda não ocorreu.

Muitos funcionários foram demitidos e outros tiveram o contrato suspenso. Com a restrição de voos e a vida das cidades ainda fora da normalidade, empresários do setor têm a avaliação de que não vale a pena abrir as portas agora, por causa da demanda inexistente.

A empresária Ludmila Abreu, 37, dona de um dos maiores receptivos de passeios turístico da praia de Pipa (RN), suspendeu as atividades no dia 20 de março, três dias antes de o governo estadual anunciar medidas restritivas.

“Não quis colocar a empresa em risco. Precisava proteger meus funcionários. Aqui, zerou desde o dia 20 de março”, diz. A empresa tinha 15 empregados. Os que tinham condições de receber o seguro-desemprego foram demitidos. Outros tiveram o contrato suspenso, e dois continuam vinculados à agência.

Ela não espera clientes antes de julho. “Acho que a partir de outubro pode ficar parecido com uma baixa estação.”

Em uníssono, empresários cobram medidas como a abertura de linhas de crédito, o adiamento do pagamento de impostos e apoio na divulgação dos destinos turísticos locais no pós-pandemia.

“Vai ser preciso motivar as pessoas a sair de suas casas e voltar a viajar”, afirma Luciano Lopes, da ABIH Bahia.

Em nota, o Ministério do Turismo informou que que vem tomando medidas para enfrentar a crise. E citou como exemplo a medida provisória de manutenção dos empregos, do Ministério da Economia, que deve ajudar a manter cerca de 1 milhão de postos de trabalho apenas no segmento do turismo.

O ministério também informou que vai facilitar o acesso a crédito para micro, pequenos e médios empresários do setor por meio do Fundo Geral de Turismo.

por João Valadares e João Pedro Pitombo

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