A sujeira na orla

 A sujeira na orla

A mídia publica matéria dando conta da limpeza da orla do Canal PA-IV, após ter mostrado a situação deplorável de lixo e entulho por lá. Era realmente intolerável para os paulafonsinos. Belo trabalho da Prefeitura Municipal.

Na próxima semana, a sujeira voltará. Passo sempre pela orla indo do BNH para a Avenida de Contorno. Tem sido assim e não deixará de ser até que os nossos nobres carroceiros tenham um local adequado para despejar os dejetos que nós lhes recomendamos descartar. Eles são pobres e desvalidos. Não têm terra, casa própria, emprego, assistência médica; não têm eira nem beira.

Sim, sei o que o leitor deve estar pensando: “É um absurdo. Esse povo é folgado. Sujam a nossa orla, poluindo a paisagem e poluindo mesmo o cambaleante e resistente Rio São Francisco, a nossa galinha dos ovos de ouro. Eles matam o rio [todos de alguma maneira o matamos] e, um dia não muito longe, perderemos os nossos ovos de ouro que são a pujança cristalina de Paulo Afonso e região”. Estamos falando, não obstante, de quem depende de uma mula ou um jegue, atrelado a uma carroça, para adquirir um mínimo de condição para sustentar a sua família. Eles carecem, então, de paciência e compaixão – de nossa parte. Falamos de nossa parte porque somos nós que contribuímos fielmente para que existam gestores, caçambas e garis, comprometidos que são, para o bem de todos.

Assim sendo, a administração poderia designar uma área específica na “ilha” para receber dos irmãos carroceiros – os carroceiros! – o material que nós lhes designamos descartar. Não cremos – não cremos mesmo – que um pequeno projeto dessa natureza vá quebrar os cofres municipais. Um pouquinho do ouro para valer algumas centenas de desprovidos da capacidade de gerar a sua própria renda [digna] não abalará, cremos nós todos, o orçamento municipal.

Sim, tem que haver ordem, comprometimento, lisura e até rigor. Numa cidade, há que haver ordem e regulamentação. Em se tratando de seres humanos, sem chicote nem preconceito, alguma coisa certamente pode ser feita. Haverá avanço, educação, mudança de hábitos. Outros povos, nações ou comunidades conseguiram. Conseguiremos também.

Até que deixem a economia se desenvolver, teremos que considerar soluções pragmáticas para os nossos problemas. Até que os donos de carroça tenham os meios para se educar no sentido de desenvolver as suas potencialidades, teremos que facilitar a sua sobrevivência.

O caminho do desenvolvimento é longo e penoso. O avanço econômico, racional e dentro da ética, por si só resolve muitos dos problemas de um país; de uma nação. Para isso haverá que ter trabalho, determinação, poupança e comprometimento de todos. Enquanto não apagarmos da nossa cabeça a lei de Gérson, que nos autoriza levar vantagem em detrimento do outro, o Brasil nunca se desenvolverá. Teremos sempre carroceiros, burros escravizados, miséria e injustiça social.

 

Francisco Nery Júnior

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