Cerveró diz que conhecia Fernando Baiano e diretor da Toyo Setal

 Cerveró diz que conhecia Fernando Baiano e diretor da Toyo Setal

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O ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró disse em depoimento à Polícia Federal, nesta quinta-feira (15), que conhece pessoalmente o diretor da empreiteira Toyo Setal, Júlio Camargo, e o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. Segundo Cerveró, ele intermediou com Camargo o aluguel de sondas de prospecção para a estatal. Já a respeito de Baiano, ele disse ter sido abordado apenas uma vez pelo lobista. O conteúdo do depoimento está disponível no sistema de processo eletrônico da Justiça Federal.

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No depoimento, Cerveró também falou das transferências de imóveis e de uma tentativa de transferir um fundo de previdência no valor de R$ 500 mil. Essas movimentações motivaram o pedido de prisão feito pelo Ministério Público Federal (MPF).

Júlio Camargo é um dos investigados na Operação Lava Jato. Partiu dele, em um acordo de delação premiada, o detalhamento das informações de que empreiteiras promoviam um cartel para definir quem ganharia as licitações junto à Petrobras. Já Baiano foi citado pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, como operador do PMDB para o recebimento e distribuição de propina para o partido. A defesa de Baiano e o partido negam as acusações.

De acordo com Cerveró, Baiano o procurou diretamente apenas uma vez, no ano de 2000, para oferecer os serviços de uma empresa espanhola que ele representava, especializada em gás e óleo, áreas em que a Petrobras ainda engatinhava. À época, o Brasil vivia o começo de uma crise energética, que, no ano seguinte, chegou ao ponto de haver racionamento de energia elétrica. Para evitar novas crises, o governo pensava em investir em usinas termelétricas.

A empresa espanhola, conforme Cerveró, que ainda trabalhava como gerente executivo de energia, pretendia fazer uma parceria com a Petrobras para investir no fornecimento às usinas. O contrato foi celebrado, mas de acordo com o ex-diretor, não teve valores significativos para a estatal. Ele também negou que tenha recebido qualquer propina para a celebração do acordo entre a Petrobras e a empresa.

Com Júlio Camargo, porém, o contato foi mais longo. O ex-diretor disse que o diretor da Toyo Setal atuava também como lobista na Petrobras. No depoimento, ele conta que, em 2006, a estatal promoveu uma parceria com a empresa Mitsui, representada por Camargo, para a construção de navios-sonda e plataformas petrolíferas. As duas companhias constituiram uma subsidiária no exterior que, mais tarde, alugou as embarcações para a própria Petrobras. As embarcações iriam ser usadas na África.

De acordo com Cerveró, Baiano indicou Camargo, dizendo que este tinha contato com empresas que poderiam viabilizar o negócio. A sul-coreana Samsung também participou do negócio, construindo os navios e plataformas. O contrato, de acordo com Cerveró, foi de aproximadamente R$ 1 bilhão para cada uma das sondas. Apesar do valor vultuoso, não houve licitação, mas o negócio foi aprovado pela Diretoria Executiva da estatal, da qual participavam seis diretores e o presidente da Petrobras.

Cerveró ainda diz que Baiano recebeu uma comissão pela indicação de Júlio Camargo para o negócio, mas que demorou a receber os valores devidos. No entanto, ele não soube precisar quais foram os valores pagos.

O ex-diretor afirmou que a relação que manteve com Júlio Camargo e com Fernando Baiano foi apenas comercial e que, em nenhum momento, recebeu qualquer tipo de propina deles. Por outro lado, no acordo de delação premiada, Camargo garantiu que pagou US$ 40 milhões de propina a Cerveró, para garantir o negócio. Negou ainda que tenha empresas em nome dele no exterior. Perguntado também se conhecia ou manteve contato com o doleiro Alberto Youssef, ele garantiu que nunca o viu pessoalmente.

Transferência de patrimônio

No depoimento, ele também falou a respeito da polêmica em torno da transferência de bens para familiares. O Ministério Público Federal considerou que isso foi uma tentativa de evitar o confisco de imóveis e investimentos para pedir a prisão do ex-diretor. Sobre o tema, Cerveró repetiu o que o advogado já havia adiantado. Ele negou que as movimentações financeiras e imobiliárias tenham sido ilegais e disse que apenas decidiu antecipar a herança que deixaria aos filhos. Em relação ao fato de ter feito as transferências com valores menores do que os de mercado, ele disse que usou o valor da compra para fins de imposto. Afirmou ainda, que os imóveis foram comprados com recursos próprios.

Da mesma forma, falou sobre o investimento de R$ 500 mil que, segundo informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), decidiu resgatar antecipadamente. A quantia estava em um fundo de previdência privada no nome de Cerveró. A intenção, segundo o Coaf, seria enviar o dinheiro para outro fundo, no nome da filha dele, Raquel Cerveró.

No depoimento, ele afirmou que desistiu da transação ao ser informado dos impostos que precisaria pagar. Conforme o Coaf, ele perderia mais de 20% do valor de face do investimento se tivesse feito o resgate. Para os promotores, a perda dessa quantia só seria justificada se fosse para evitar o confisco de todo o patrimônio, em caso de condenação.

Mais cedo, o advogado de Cerveró, Beno Brandão, havia dito que o ex-diretor passa por problemas financeiros. “Ele era um diretor da Petrobras, que ganhava mais de R$ 100 mil por mês. Em março do ano passado, ele deixou de receber isso”, explica Brandão. No depoimento, Cerveró detalhou que recebe R$ 10 mil de aposentadora e outros R$ 5 mil referentes ao aluguel de um apartamento da família em Ipanema, no Rio de Janeiro e que não possui outras fontes de renda.

Pasadena

A defesa de Cerveró entrou com um pedido de habeas corpus para o ex-diretor da Petrobras. Não há um prazo para o julgamento do pedido. No documento, os advogados afirmam que ele está disposto a falar não só sobre as relações sobre as quais é investigado diretamente, mas também sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, cujo relatório assinado por ele embasou a transação. O negócio gerou prejuiízo de mais de R$ 1 bilhão à Petrobras.

A Polícia Federal, no entanto, pretende ouvir novamente Cerveró só sobre o negócio de Pasadena. A data do novo depoimento ainda não foi marcada.

Samuel Nunes

Do G1 PR

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